sexta-feira, 3 de outubro de 2025

LITANIA

 

           

                

 

                    Nostálgico pensar na solidão

                    aflora o meu âmago mais profundo

                    em vãs interrogações sobre

                    a transitoriedade presente

                    que faz os doces momentos,

                    tornar-se doídos lamentos.

 

                    Derrama-se na minha alma

                    lágrimas de negra melancolia,

                    enquanto uma cintura lânguida

                    de brancas nuvens

                    passa, dando adeus

                    ao crepúsculo vespertino.

 

                    Como o pêndulo indiferente

                    de um relógio que segue,

                    oculto-me por trás de palavras

                    perdidas e esquecidas,

                    em busca de coisas

                    que nunca são encontradas.

 

                    Em noites claras, mal dormidas,

                    as florestas ecoam meus suspiros

                    entre sonhos dissolvidos

                    no meu hábito de exaltada ternura,

                    à procura do que ontem era tudo

                    e hoje, o prado só medra abrolhos

                    e nada mais se fecunda.

 

                                    Antenor Rosalino

7 comentários:

  1. Rosalino,

    que beleza melancólica em seus versos…
    Eles carregam o peso da solidão, mas também a delicadeza da contemplação. É como se a sua poesia transformasse a dor em paisagem, e a nostalgia ganhasse voz no silêncio do crepúsculo.
    O tempo, o pêndulo, os abrolhos tudo se mistura ao coração humano, que tantas vezes procura o que ontem era tudo e hoje parece nada.
    Obrigada por compartilhar essa emoção em palavras. Elas tocam fundo e nos fazem refletir sobre a transitoriedade que todos vivemos.

    Um abraço meu amigo!
    Fernanda

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    1. Olá, Fernanda.
      Sim, minha amiga. Há momentos em que, num giro incognoscível, a melancolia se entranha em beleza num silenciar profundo de alma e nos leva a maiores reflexões no que tange às mudanças que a vida evidencia em momentos de insperadas tristezas ou alegrias.
      Os agradecimentos são meus pela honra de sua visita e comovente comentário.
      Cordial e fraterno abraço.

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    2. Boa noite meu amigo,

      Suas palavras sempre me tocam profundamente. É verdade: há momentos em que a melancolia e a beleza caminham juntas, e o silêncio da alma nos ensina mais do que qualquer palavra poderia.
      Agradeço também pela sua amizade e por esse diálogo tão rico e sereno que compartilhamos. É um presente poder refletir junto, mesmo nas surpresas que a vida nos traz sejam elas de tristeza ou de alegria.

      Um abraço fraterno e carinhoso,🙏🏻😘

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  2. Olá, querido poeta Antenor, ao ler esse seu poema parece-me que ele é mais que um poema, é uma oração, oração de quem está diante da crueza da vida, pela incerteza que ela nos apresenta, mas que também está diante da vida, vista pelo lado positivo de quem sabe aproveitá-la e que rende graças a Deus pelo que encontrou e vive o seu lado bom, lado esse que tem um relógio a marcar o nosso tempo.
    Um poema pleno de emoção, de sabedoria e de sentimento diante deste mundo que estabelece o nosso tempo.
    Muitos aplausos, meu amigo, saio pensativa diante da beleza contida e da realidade que nos é mostrada.
    Grande abraço daqui de Porto Alegre nesta tarde de sol para a sua linda Araçatuba.

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    1. Caríssima Tais,
      Emociona-me saber de sua apreciação ao meu texto, que a levou, inclusive, a estabelecer certa comparação do mesmo a uma prece.
      Quando a alma é grande como a sua, sempre procura elevar outras almas para patamares mais elevados. Assim, sinto-me envolto em leveza e alegria sempre que tenho a honra de sua amável presença por aqui, com sua sapiência excepcional.
      Com meus agradecimentos mais profundos, deixo aqui também o meu abraço desejando-lhe um lindo domingo e uma semana vindoura repleta de bênçãos e alegrias.
      Que a felicidade desse dia de sol continue a cintilar em sua belíssima Porto Alegre para que seus olhos possam brilhar com a mesma intensidade.


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  3. Olá, caro amigo e poeta Antenor, ao ler esse seu
    profundo poema veio-me à lembrança ensinamentos que tive ao longo do tempo sobre o ser poeta, de alguém, homem ou mulher que nasce predestinado à poesia. Sabemos que o poeta tem a visão dos olhos e a visão da alma, que lhe mostra o que está dentro de si, ao seu redor e nos cantos do mundo. O poeta também sente mais profundamente do que as pessoas que não nasceram para ser poeta.
    O poeta vê o que tem dentro de si, no sei entorno e compreende e respeita a nossa finitude.
    Foi tudo isso, caro Antenor, ver e sentir nesse seu admirável poema, que mostra toda a extensão do seu talento poético, um raro talento, que quem o tem deve entregar sua mensagem ao mundo.
    Parabéns, meu caro Antenor pela belíssima obra poética.
    De Porto Alegre mando meu abraço para a bela Araçatuba.

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    1. Bom dia, meu caro Pedro Luso.
      Não podemos negar, meu amigo, que tudo se torna poético quando procuramos olhar o mundo de forma igualmente poética, e o mundo precisa, mais do que nunca, de corações mais mansos, poéticos e puros.
      Indubitavelmente, foi um grande feito para a humanidade a descoberta da poesia que, como você bem diz, trouxe maior sensibilidade e reflexão sobre tudo o que nos permeia, principalmente as coisas simples e belas.
      Não sou possuidor do singular sentimento lírico que o tornou o dinossauro da poesia contemporânea, mas procuro aprimorar e lapidar conhecimentos nesse outono da minha vida e, para minha surpresa e honra, tenho contado com o incentivo de amigos iguais a você.
      Muito lhe agradeço pelo gentil comentário e fique com meu abraço e entusiásticas saudações araçatubenses para o fascínio da sua Porto Alegre.

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