Certo dia, fui interrogado por um jovem que
desejava saber o motivo pelo qual alguns poetas parecem ser tomados por bem
mais inspiração quando estão alcoolizados. O jovem perguntador fez, inclusive,
algumas referências sobre grandes poetas do passado.
O que penso e respondi a respeito foi o
seguinte: sabemos que existem pessoas que possuem maior sensibilidade do que
outras. Se essas pessoas vêem, ouvem ou leem algo que lhes desperta maior
atenção, costumeiramente passam isso para o papel. Debruçam-se nos seus
sentimentos e daí nasce o poeta!
Sendo assim, quando as circunstâncias
favorecem por algum motivo, principalmente quando o poeta se encontra
introspectivo, surgem as inspirações.
O álcool produz, para alguns, certos momentos
de euforia, mas, para outros, contrariamente, causa melancolia. Em ambos os
casos, podem surgir pensamentos líricos, porque a mente divaga em sonhos, mas
não posso acreditar que o escritor busque a arte na bebida.
Alguns escritores podem continuar escrevendo
muito, até mesmo em estágios avançados de dependência alcoólica, mas isso tem a
ver apenas com o talento, jamais com o vício, mesmo por que, o álcool não
contribui para a criatividade, pelo contrário, corrói a função mental.
Embora os efeitos do álcool tendam a variar
de acordo com as características de cada pessoa, de um modo geral, quando é
ingerida em pequenas quantidades causa certa desinibição, mas com o aumento
gradativo da ingestão o indivíduo começa a apresentar dificuldade de resposta
aos estímulos.
Portanto, não vejo o alcoolismo como uma
espécie de catalisador necessário à inspiração. Se o poeta ficar em casa e
buscar reflexões, obterá o mesmo resultado que possa ter na mesa de um bar. O
devaneio poético provém, unicamente, da introspecção que traz uma visão mais
sólida e sensória do mundo e do circunspecto.
É o vício que o leva para a rua, como
acontecia com muitos poetas líricos e pensadores do passado, e não a
necessidade de engrandecer o seu estro poético. Prova disso é que a poesia pode
nascer na contemplação da grandiosidade do universo como também do simples
desabrochar de uma flor, do sorriso de uma criança, do fascínio estelar, dos
crepúsculos, da imensidão do mar... E alguém dominado pelo álcool, obviamente,
se vê incapaz de observar a vida em flor. Pode até ocorrer alguns lampejos ou
alucinações, mas não a vida em seu apogeu maior de luz e encantamento.
Sabemos que um poeta lúcido, distante dos
vícios, quando inspirado, não só encanta como parece transmutar o imaginário
para o real, como a própria poesia em seus abstratismos assim o faz.
Autoria: Antenor Rosalino
Imagem da internet