segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

ODALISCA


       

 

        No tempo fatídico da escravatura inútil,

        Quando estrelas fitavam tristonhas senzalas,

         Requebravas seus dotes de moça bonita

         Sob os olhos vorazes do sultão no harém!

 

         Como  flor entre espinhos balançando no ar,

         Deixaste no tempo em silente insuflar

         O legado supremo do saber infinito:

         “Ocultar o sofrer com sorriso no olhar”.

 

          Seu rosto brilhava nos traços perfeitos

          Emitindo aspectos de raios de luz!

           Na escultura do corpo onde olhares pousavam,

           E encantados ficavam pelo ardor sensual!

 

           Senti-as na pele enquanto dançavas,

           O martírio de outros escravos irmãos

           Padecendo torturas nas duras falésias,

           Sob açoites ferozes em seu crepitar.

 

            Porém, nesta vida, como tudo se esvai,

            Deixou este mundo a pobre puela.

            Entre solfejos divinos e lampejos de luz

            Olvidando os insultos, com Deus foi morar!

 

             Hoje distante de impiedosos terráqueos,

             Juntando-se à plêiade de escravos fiéis

             - em sonhos felizes sem dor a ocultar -,

             Desfruta os tributos dos anjos dos céus.

 

 

                                   Antenor Rosalino

 

 

 

 


 

 

 

domingo, 7 de fevereiro de 2021

DESILUSÃO

 


Houve um tempo já distante

Em que os tristes olhos meus

Perdia-se na distância infinda

Da ilusão dos olhos seus.

 

Vestia-se de doce esperança

Com brilhos angelicais,

Cintilando a mesma calma

Do azul do imenso céu!

 

Não via as púrpuras rosas

A natureza enfeitar,

Nem as águas em cascatas...

Só via o seu meigo olhar!

 

Não ouvia o cantar festivo

De acrobáticos rouxinóis...

Somente sua voz ressoava

 Nas paredes boreais.

 

Quando, afinal, meu olhar

Desencantado perdia o brilho,

Soubera que um trágico acidente

Ceifara sua visão para sempre.

 

Desde então o amargor

Da menina dos olhos seus,

Ensandeceu de tristeza

O menino dos olhos meus.

 

 

                     Antenor Rosalino