sábado, 25 de novembro de 2023

SENTIMENTOS

 

                                                       


 Há um aspecto relutante entre a mórbida paixão e a amizade verdadeira, A paixão tem perfil de posse. Os enamorados dominados pela volúpia do amor só têm olhos para o seu bem querer, sufocando-o inconscientemente, e, aos poucos, vão se frustrando na tentativa de moldar um ao outro a seu bel prazer.

  Não me refiro aqui, aos enamorados que nutrem em igualdade de condições, aquela paixão salutar, caracterizada pelo ardente desejo de estar a maior parte do tempo possível com a pessoa amada, pelo prazer da companhia e da cumplicidade. Eu falo da paixão exacerbada, que ultrapassa os limites da sensatez e do espaço próprio, para tentar protelar o domínio pessoal e restrito do outro. 

  A amizade, pelo contrário, é a essência eterna da solidariedade. Não tem amarras de domínio, é liberta, é sentimento nobre, isenta de interesses de reciprocidade. Gostamos dos nossos amigos e isso basta. Emprestamos-lhes o ombro afável, quando lágrimas rutilantes brotam dos seus olhos fatigados pelas adversidades. A ajuda, o consolo, estão sempre presentes e, mesmo na alquimia da distância, o calor da amizade aquece o coração e emite metafisicamente, raios de luz à pessoa amiga, em esperança de recebê-la num dia qualquer, de repente, e ver a felicidade vívida aventar-se no espaço, consumar-se em seu sorriso e comungar com nosso abraço.

   Assim como há casos e histórias apaixonantes de amores nascidos à primeira vista, é bem verdade também que, em muitos casos, ao perdermos tempo com alguma pessoa pela qual nutrimos um sentimento real de amizade, respeito e admiração, aos poucos a pessoa para a qual desejamos apenas a sua felicidade, sem pensarmos em reciprocidade de sentimentos perceberá que, surpreendentemente, passamos a representar muito para ela também, e não seria surpresa ouvirmos da pessoa a quem tanto devotamos afeto, respeito e admiração, a seguinte afirmação: “perdendo o seu tempo comigo, tornastes importante para mim”.  

   Portanto, numa análise clara da situação, não se trata de perda de tempo, em caso de uma amizade aparentemente unilateral, pelo contrário, esta é uma das mais admiráveis demonstrações de carinhosa amizade que podemos demonstrar por alguém, sobrelevando-se ainda, que não estará fora do contexto a afirmativa de que há tanta complexidade no amor e nas coisas do coração, que somos capazes até mesmo de amar uma pessoa de quem não vemos ou com a qual não temos maiores contatos.

   Fundamentalmente, a amizade é isso: uma desinteressada e afável solidariedade, cujo sentimento de tão nobre, até mesmo pode transformar-se em amorável cumplicidade transcendental.

 

                                                               Antenor Rosalino

 

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

ESTRADA ABERTA


Ao longo da estrada aberta

Palmilho, na alegria

De gramas verdes, orvalhadas.

 

Busco o limiar onde

O horizonte abraça a vida,

Doura o curso dos dias

E impulsiona em doce frenesi

O meu pulsante coração.

 

Não tenho olhos para a

Negra desventura.

Como posso desviar o olhar

Da magia de um céu

Emoldurado de ternura?

 

Esse caminho de luz

Enternece-me de gratidão,

Alegrando o meu caminhar

Pelas veredas do amor

Fundamentado na razão.

 

            Antenor Rosalino