sexta-feira, 15 de junho de 2018

INSPIRAÇÃO POÉTICA


                                                           


  Não são raras as vezes em que lampejos de inspiração me vêm à mente. Surgem, sorrateiramente, vindos assim do nada. Não sei mesmo de onde vêm. Parece que se escondem no mais profundo do âmago até resolverem se revelar.
  Uma coisa se evidencia claramente: quem tem o prazer de elaborar poemas não os escolhem, eles é que surgem e os poetas e poetisas se submetem aos seus caprichos. A partir daí, nada mais importa, apenas e tão somente o transbordar das doces palavras, as quais, paulatinamente, vão surgindo e povoando o coração poético.
  O texto vai ganhando vida e superando as angústias, apesar de que a inquietação é sempre latente na alma de quem tem aguçada sensibilidade para escrever poesias. E isso decorre em virtude da incansável e intermitente busca pelo perfeccionismo dos escritos.
  Por vezes, me ocorrem receios de que a inspiração se afugente, mas quando ela se vai, parece voltar, depois de algum tempo, ainda mais esculpida e decantada. Em vista desse detalhe, da volta sempre triunfal dos sentimentos líricos, não fico preocupado e jamais desprezo a abençoada dádiva do escrever, de exteriorizar plenamente o meu sentir sobre o circunspecto e muito além nas viagens da imaginação.
  Muitas são as lembranças que acabam por fazer parte do labor poético e contribuem, decisivamente, para o surgimento da arte. Estar atento de forma contemplativa ao circunspecto, procurando razões e respostas, refletindo sobre as circunstâncias do cotidiano é, sem dúvida, de importância fundamental, além de desenvolver a capacidade lingüística.
  Entretanto, muitas vezes, quando nesse estado introspectivo, eis que, de repente, o telefone toca. Imediatamente, vem a pergunta: por que tocar justamente agora?
  Os assuntos ao telefone se sucedem. Por fim, a volta ao pensar na poesia latente. E outra pergunta se faz inevitável: onde eu estava mesmo?
  Assim como veio, a inspiração se vai... Onde será que se esconde? Não adianta tentar buscá-la. Deve estar em algum lugar distante. Definitivamente, parece que esperá-la é minha sina.
  Depois de certa fase da minha vida, quase sempre, antes de a noite chegar, recorro-me aos sonhos e às lembranças mais queridas e espero a inspiração voltar com sua essência cristalina e pura que paira no ar como um espectro. É um despertar de sentimentos que se renova trazendo beleza à minha alma. Enfim, na minha concepção, acredito não ser exagero acreditar na convicção de que tais manifestações que se afiguram tão gratificantes e belas quanto misteriosas, são expressões do sentir que Deus escreve no tempo e na eternidade.

                                                       Antenor Rosalino