Não são raras as vezes em que lampejos de inspiração me vêm à mente.
Surgem, sorrateiramente, vindos assim do nada. Não sei mesmo de onde vêm.
Parece que se escondem no mais profundo do âmago até resolverem se revelar.
Uma coisa se evidencia claramente: quem tem o prazer de elaborar poemas
não os escolhem, eles é que surgem e os poetas e poetisas se submetem aos seus
caprichos. A partir daí, nada mais importa, apenas e tão somente o transbordar
das doces palavras, as quais, paulatinamente, vão surgindo e povoando o coração
poético.
O texto vai ganhando vida e superando as angústias, apesar de que a
inquietação é sempre latente na alma de quem tem aguçada sensibilidade para escrever
poesias. E isso decorre em virtude da incansável e intermitente busca pelo
perfeccionismo dos escritos.
Por vezes, me ocorrem receios de que a inspiração se afugente, mas
quando ela se vai, parece voltar, depois de algum tempo, ainda mais esculpida e
decantada. Em vista desse detalhe, da volta sempre triunfal dos sentimentos
líricos, não fico preocupado e jamais desprezo a abençoada dádiva do escrever,
de exteriorizar plenamente o meu sentir sobre o circunspecto e muito além nas
viagens da imaginação.
Muitas são as lembranças que acabam por fazer parte do labor poético e
contribuem, decisivamente, para o surgimento da arte. Estar atento de forma
contemplativa ao circunspecto, procurando razões e respostas, refletindo sobre
as circunstâncias do cotidiano é, sem dúvida, de importância fundamental, além
de desenvolver a capacidade lingüística.
Entretanto, muitas vezes, quando nesse estado introspectivo, eis que, de
repente, o telefone toca. Imediatamente, vem a pergunta: por que tocar
justamente agora?
Os assuntos ao telefone se sucedem. Por fim, a volta ao pensar na poesia
latente. E outra pergunta se faz inevitável: onde eu estava mesmo?
Assim como veio, a inspiração se vai... Onde será que se esconde? Não
adianta tentar buscá-la. Deve estar em algum lugar distante. Definitivamente,
parece que esperá-la é minha sina.
Depois de certa fase da minha vida, quase sempre, antes de a noite
chegar, recorro-me aos sonhos e às lembranças mais queridas e espero a
inspiração voltar com sua essência cristalina e pura que paira no ar como um
espectro. É um despertar de sentimentos que se renova trazendo beleza à minha
alma. Enfim, na minha concepção, acredito não ser exagero acreditar na
convicção de que tais manifestações que se afiguram tão gratificantes e belas
quanto misteriosas, são expressões do sentir que Deus escreve no tempo e na
eternidade.
Antenor Rosalino