sexta-feira, 31 de maio de 2024

TEMPORAL

                  

                                  

                                    

O dia sursgiu ostentando um céu cinéreo e triste.

 Através de procissões de vidraças, olhares perscrutadores fitam amedrontados a força intempestiva do vento inclinando e até derrubando frondosas árvores, enquanto gigantescos rodamoinhos se unem em espirais de poeira, impedindo a livre movimentação corriqueira dos transeuntes em seu cotidiano.

  As centelhas luminosas dos raios aumentam sempre mais o fulgor, como a prenunciar algo ainda mais devastador.

  Após o prenúncio desolador, a chuva cai! O seu fluxo aumenta sempre mais, na mesma proporção da ventania que se alastra arrastando penachos pelo negro e deslizante asfalto, agora transfigurado pela terra avermelhada e pelas folhas e flores mortas caídas em abandono e deslizando em aclives e declives para alojar-se principalmente e de forma mais intensa e consistente, em tubulações e bueiros, sobrecarregando-os e causando entupimentos e desvios do fluxo das águas, aumentando assim as preocupantes inundações e impedindo o trânsito dos veículos que formam filas intermináveis de congestionamentos, impossibilitando a freqüência normal dos estudantes às suas escolas e diminuindo sensivelmente as compras e vendas comerciais.

  A cidade vive um dia de caos. As águas torrenciais caem em profusão, sem tréguas e parece não ter fim. Os bairros periféricos são castigados impiedosamente e as pessoas transtornadas e apreensivas presenciam a tudo, sem nada poder fazer. Os corações aflitos aceleram o seu pulsar, temerosos de que algo possa acontecer com suas frágeis moradias e se apegam em sua fé inabalável, buscando a proteção dos céus para que nada de mais grave venha a ocorrer em suas vivências de desamparo e sacrifícios.

 Aterrorizados pelo cenário desolador, os suburbanos observam, vez por outra, a luminosidade dos raios sempre seguidos pelos estrondos ameaçadores dos trovões. As crianças assustadas perdem a vivacidade e o desejo de brincar; os pássaros afugentam-se em seus ninhos... Nas encostas dos morros a terra desliza e os torrões descem ladeira abaixo, arrancando árvores, destruindo plantações e desmoronando até mesmo alguns casebres que insistem em continuar pendurados nos morros, como a pedir socorro aos céus pela desventura dos pobres moradores.

  Assim como a fúria das enxurradas, o dia passa disseminando apreensões, aventando incertezas e aprofundando reflexões e questionamentos sobre a preservação ambiental que urge como nunca. E nesta aflição e temeridade, as pessoas se unem em prece, na esperança de que uma mão benigna e invisível abafe o vento intempestivo e, como numa divisão de mundos, as cortinas da noite tragam a paz desejada a todos os corações e um novo dia de sol devolva o rito harmonioso e contínuo da vida no seu apogeu maior.


                                                                  Antenor Rosalino 

sábado, 18 de maio de 2024

O SAPO

                                    

                                

À beira da estreita rua de terra umedecida pela chuva torrencial que lhe assolara, deleitava-se quieto, muito quieto, solitário sapo, sem imaginar o suplício do futuro a espreitar lhe.

  Seus grandes e vívidos olhos tinham luzes de pirilampos e brilhavam ainda mais, ao entreolhar curiosos garotos a lhe rodear.

  De repente: a tragédia! Os meninos lançaram lhe pesadas pedras e a cada pedra lançada, um salto a mais do pobre sapo, em sua  angustiante tentativa de desvencilhar-se da emboscada crucial.

  Esforços vãos: não suportando a intensa crueldade, pouco a pouco vai perdendo as forças e desfalece, enfim, numa poça d’água, lançando ainda um último olhar estupefato aos pequenos vândalos,como a entender e a perdoá-los.

    Ó Pobre sapo! Sua voz não é ouvida, mas o seu silêncio transmutará em dolente silvo de clamor, que ressoará por longo tempo na consciência dos garotos, fazendo-os repensar em profusão, sobre a tortura que lhe impuseram; e verão ainda, o  desabrochar de flores, no lugar do suplício de tão dolorosas pedras.

 

                                               Antenor Rosalino

 

 

segunda-feira, 6 de maio de 2024

FLAGELO

 

  

 

  Aqui fico profundamente compadecido e solidário com todos

os gaúchos no enfrentamento das terríveis tragédias sem

tréguas, causadas pelas chuvas torrenciais nunca vistas em

tão grande proporção, causando estarrecedores sofrimentos

e até mortes num cenário de doer o coração, no sul do país.

  Faço coro com a fervorosa corrente de orações de todos os

brasileiros para que tudo volte à normalidade o mais breve possível

e que Deus dê o conforto necessário às famílias que perderam seus

entes queridos.

 

   Profunda paz!


 

                                              Antenor Rosalino