sábado, 25 de fevereiro de 2017

AMIZADES





Não é preciso buscar nos abissos da memória, lembranças das mais queridas no que diz respeito às amizades que tivemos ao longo de nossas vidas, isto porque, as mesmas estão presentes tanto na realidade presente dos amigos atuais, quanto na bruma invisível da saudade no mais profundo do nosso âmago.
  Ainda que distantes, as amizades que eu tive o prazer e o privilégio de ter, eu as sinto como se me trouxessem lenitivos e irradiassem harmonia e esperanças das mais promissoras como bênçãos divinais.
  Recordo-me com indizível nostalgia, da grande maioria dos meus amigos de infância, da adolescência e de outros que acabaram se tornando para mim, amigos verdadeiros e inesquecíveis.
  Quantas saudades dos primórdios da minha infância, quando eu brincava com meus amigos no quintal da minha casa, sob o doce frescor das sombras das árvores ou nas calçadas desenhando e redesenhando rabiscos com tijolos de construção, regidos por uma inocência encantadora, dificilmente vista em nossos dias atuais.
  As lembranças dos amigos são imortais. Meus pensamentos voejam ainda aos primeiros madrigais, às antigas brincadeiras dançantes na adolescência, as quais aconteciam até mesmo em casas residenciais nas belas tardes de domingo ou na prata dos luares, em que nossos olhares de jovens rapazes se encantavam com a beleza das senhoritas e seus delicados gingados que faziam fremir os corações ao som de singelas músicas da Jovem Guarda de tantas e tão belas recordações.
  São inúmeros os exemplos que comprovam o altruístico sentimento de amizade que eu tive o prazer de vivenciar, entre os quais, cito um fato interessante: um amigo meu, já falecido, conseguiu um emprego para mim numa grande empresa, através de um seu padrinho, que, posteriormente, passou a ser o meu chefe imediato. Até aí, apesar da solidariedade, não há nada que mereça maior atenção. Acontece, porém, que eu não havia solicitado nada a esse amigo. Portanto, foi um ato cabal de consideração e amizade, pois na ocasião eu necessitava mesmo de um emprego.
  Numa outra ocasião, quando eu possuía um barzinho, o país viveu uma crise econômica nunca vista. A inflação se avultava e não se encontrava carne nos supermercados. Esse produto era de fundamental importância para mim, que vendia uns tipos de bolinhos de carnes deliciosos e os vendia em abundância. Sabedor da minha necessidade, um amigo meu que também era meu cliente e viajava muito como repórter de uma emissora televisiva, conseguiu vários quilos de carne e me trouxe para que eu pudesse dar continuidade ao meu trabalho e satisfazer os clientes. O fato maior de comprovação de amizade, é que, além da surpresa, por mais que eu insistisse no pagamento ele se recusou a receber qualquer quantia de imediato, deixando a meu critério posterior retribuição de gentileza.
 O que mais marca as amizades é justamente isso: o fato dos amigos desejarem apenas a nossa felicidade, sem visar recompensas. Emprestam-nos o ombro afável nas adversidades e estão sempre presentes com palavras de esperança e otimismo, desejando-nos sempre o melhor.  
  Enfim, analogamente à brisa que nos alisa, os amigos regam as nossas almas, tocando-as, intensamente, num incomensurável enlevo espiritual.
  As amizades, quando presentes, são ninhos aconchegantes e refrigério que acalma a alma; e quando distantes, pelos ocasos da vida, transmutam-se em centelhas de espiritualidade, contínuas irradiações de bênçãos, as quais chamamos saudade.



Autoria:  Antenor Rosalino


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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

NATUREZA ARTÍSTICA



Em demorados silêncios da natureza artística
Um profundo mistério se irradia
Assim como a prece que se eleva crística
De encontro ao céu rompendo a ousadia.

A arte é deixar-se dizer o que a alma pressente
Em versos de encanto ou manuseios calientes
Quando a inspiração em sonhos se faz latente
E em alforria passeia na essência presente.

Gotas de luz iguais pedras cristalinas,
Num átimo inusitado, rabiscam o céu em esperanto
Demasiada beleza em fulgor que me alucina
No esplendor da vida tecendo encanto!

Assim se afigura a arte em seu apogeu de luz
Disseminando fascínio no azul da amplidão
Cósmica e lunática, que em meu coração reluz
Fazendo-me enigmático dissipando a lassidão.





Autoria:   Antenor Rosalino

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sábado, 4 de fevereiro de 2017

O SENTIR POÉTICO

                              


 No silêncio que transfigura a alma de todos aqueles que são poetas natos ou se enveredam no mundo da poesia: os poetas consagrados, nacional e internacionalmente, por suas obras do mais alto lirismo ou um poeta em seus primeiros passos, sem ter ainda angariado notoriedade, a última página que escrevem é apenas o prenúncio de uma nova página em branco onde será delineado o imorredouro sentir de quem tem uma vontade imensa de atravessar universos imaginários e nuvens carregadas de magia.
 Desprendendo-se do cansaço da rotina e danos do mundo concreto, desejam ver a beleza suprema no enigmático encanto de seus poemas cósmicos, lunáticos, e seguem no afã de capturar o que a vida prescreve, na certeza de que todos nós estamos aqui por apenas um breve tempo e nada mais.
  Com sorrisos de marfim, parecem viver no mundo da lua! E isso me faz lembrar uma das citações que mais admiro do imortal Olavo Bilac que diz: “há quem me julgue perdido porque ando a ouvir estrelas; mas só quem ama tem ouvidos para ouvi-las e entendê-las”.
   Não se pode negar que os caminhos que levam ao amor são pavimentados por situações que, por vezes, parecem estranhas ao ponto de vista normal, por ser tão carregadas de emoção e isso é característica dos poetas que veem o mundo por outra ótica.
    A fase da vida em que somos mais imaginativos é na infância. É por essa razão que as crianças são tão inventivas. E isso deve ser aproveitado ao máximo como primeiros passos para a realização futura de grandes obras. Por essa razão, é extremamente louvável a iniciativa da Academia Araçatubense de Letras em promover os concursos estudantis que anualmente vem promovendo com o apoio das Secretarias de Ensino municipal e estadual.
    Como ilustração e para maior elucidação sobre o sentido da poesia, relembro aqui uma passagem atribuída a Jesus de Nazaré: consta que o Mestre dos Mestres caminhava com seus discípulos quando, num determinado trecho do caminho depararam com um cão morto, já em estado de putrefação. Os discípulos, imediatamente, trataram de mudar a rota, mesmo porque, o mau odor era grande. Jesus, pelo contrário, aproximou-se do animal e, fitando os seus alvos dentes virou-se para os discípulos e asseverou: “Vejam! Os dentes dele brilham mais do que os lírios do campo”. 
  Como podem observar, Jesus não só via poesia nas coisas, mas a sentia até mesmo num cão já em estado de putrefação.
  Poesia é isso: um desfraldar de emoções! É a observância do mundo dentro ou a redor de nós próprios. Já escrevi, inclusive, sobre um sapo. Há muito tempo, quando voltava de uma caminhada, vi um pequeno sapo à beira de uma poça d’água. Fui para casa pensando na possibilidade do pobre sapo ficando ali exposto, estar sujeito a ser maltratado e elaborei o poema que faz parte do meu primeiro livro.
    Escrever poesias é uma habilidade que melhora com a prática, assim como qualquer escrita. Podemos debruçar nosso sentimento e refletirmos sobre o amor ou sobre um grão de areia na acalentura do sol. Enfim, qualquer capacidade, até mesmo em se tratando de poesia, quanto mais se pratica mais se adestra.

Autoria: Antenor Rosalino
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