sábado, 22 de abril de 2023

MADRUGADA DO ADEUS

 

                               

                    


Na noite do nosso adeus, apenas meus passos

são ouvidos. São precisos, resolutos, porém,

           incertos pela rua reta, deserta...

 

O negro asfalto me acompanha: é meu escafandro

contra as pedras, nas quais poderia tropeçar-me

                  pelas esquinas da vida!

 

Sinto o coração pranteado desagregar-se do

corpo meu. Já não sabe viver sem a ternura do

contato teu. Esqueceu-se de te esquecer!

 

Volvendo os olhos para o céu estrelado distingo,

lânguido, a nossa estrela. Lembra-se? É a mesma

estrela que escolhemos para fitar, quando estivéssemos

distantes um do outro e pudéssemos lembrar de que, mesmo

longe, bem longe, estaríamos vendo a mesma estrela.

 

Estou agora a fitá-la e não a vejo cintilar:

parece triste, tão triste...,  acompanhando apenas

o meu olhar,  sentindo talvez, como eu,

             a falta dos olhos teus.

 

                        Antenor Rosalino

 

quinta-feira, 6 de abril de 2023

SER


Não tenho medo da morte,

Pois bem sei que ela virá

Sorrateira, como sempre,

Com seu manto me afagar.

 

A minh’alma está serena.

O meu ser sempre será

Ínfimo, porém, eterno,

Onde o porvir me esperar.

 

Como as águas de um riacho

A correr por todo o tempo,

O nosso ser verdadeiro

É parte do mesmo tempo.

 

Embora a vida terrena

Seja uma graça bem vinda:

Não creio ter vindo do nada

E voltarei calmo ao meu ninho.

 

                   Antenor Rosalino