Emanuel era um jovem inclinado à poesia.
Desde os primórdios de sua infância, gostava muito de ouvir textos poéticos e,
foi crescendo com essa tendência lírica, acentuada ainda mais pelo fato de
sempre ler grandes poetas de todas as épocas.
Com o passar do tempo, passou a formular
poemas com assiduidade, sempre aprimorando os escritos e gostava de mostrar a
todos esse clamor poético latente em suas vísceras. E assim, foi ficando
conhecido e era muito elogiado, apesar de também receber algumas críticas em
virtude do seu estilo mais propenso ao rico vocabular, o que não agrada tanto
às pessoas menos instruídas, mas que, sem dúvida, dá um glamour a mais à poesia
que, assim como é feita de abstratismos, de transmutar principalmente as coisas
belas inexistentes para a realidade presente, também aceita, de modo mais
contundente, as metáforas, as trocas de palavras por outras. E isso Emanuel
fazia sempre. Gostava de brincar com os vocábulos e, vez, por outra, em seus
textos figuravam as palavras ditas difíceis.
O maior desejo de Emanuel era publicar um
livro. Por isso, foi compilando num caderno os seus principais escritos. Certo
dia, ao tomar conhecimento de que havia sido abertas inscrições para o primeiro
concurso de poesias de sua cidade, imediatamente o jovem providenciou a sua
inscrição e, a cada dia que passava mais aumentava a sua expectativa no
resultado final. Cônscio do seu talento, acreditava que poderia ser o ganhador
e o entusiasmo o dominava.
Por fim, chegou o dia da divulgação dos
ganhadores. Emanuel não foi o primeiro colocado, mas ficou muito feliz com a
segunda colocação. Era um prêmio ao seu labor e gosto pela poesia.
No dia da premiação, Emanuel saiu de casa
sorridente. Afinal, iria receber algo que comprovaria o segundo lugar
conquistado num concurso promovido por conceituada academia de letras.
Entretanto, não houve entrega de certificados, nem troféus ou medalhas, mas
apensas três livros, de autores sem grande prestígio, ao segundo colocado. De
qualquer forma, o poeta não perdeu o entusiasmo. Afinal, em algum dos livros
haveria de ter algum escrito da promotora do evento parabenizando-o ou citando
algo que lhe incentivasse a continuar com suas pretensões poéticas.
Terminada a cerimônia, Emanuel chegou feliz e
sorridente em sua casa. Chamou os familiares e pessoas próximas para
mostrar-lhes o conteúdo da homenagem e foi logo abrindo livro por livro. Nos
dois primeiros nada havia. Ao abrir o terceiro, observou uma dedicatória que,
para sua tristeza e profunda decepção nada dizia a respeito do prêmio. A
dedicatória destinava-se a um rico empresário da cidade e trazia agradecimentos
pela contribuição do mesmo àquela entidade cultural.
Como poderia, os responsáveis por uma entidade que se destina, primordialmente,
à preservação da Língua e ao incentivo aos valores literários agirem de forma
tão desorganizada, sem o devido zelo às coisas afins? - Pensaram todos os presentes.
E naquela noite de domingo primaveril, o
desencanto tomou conta do poeta fazendo com que a poesia sempre presente em seu
íntimo se desvanecesse por um tempo, como neve dissolvendo-se na acalentura do
sol.
Autoria: Antenor Rosalino
Imagem da internet
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