Há algum tempo, um acidente registrado na via
Dutra, chamou a atenção para a seguinte reflexão:
Um caminhão transportava naquela via uma
carga de feijão. Em dado momento, o motorista perdeu o controle do veículo que
veio a despencar do viaduto, tendo o motorista perdido a vida no local.
O acidente em si, embora não seja tão comum,
e, obviamente, seja profundamente lamentável o fato do motorista ter perdido a
vida, outro fato decorrente é igualmente triste e estarrecedor: ao cair, a
carga do caminhão espatifou-se pelo asfalto e, mais que depressa, um aglomerado
de pessoas se juntou, nem tanto por lamentar ou admirar a gravidade do
acidente, mas sim, para recolher, cada qual, a maior quantidade possível da
carga derramada.
Ao ponto de vista normal, o alvoroço da
multidão furtando a carga é condenável, afinal, os princípios morais ditam a
regra: condenam com veemência o larápio. Isso é tácito e não há contestação.
Entretanto, analisando o fato sob todos os ângulos, chegaremos às seguintes
conclusões: entre as pessoas é quase certo que havia baderneiros e marginais.
Estes, quase sempre, são vistos apenas como dignos das mais severas punições. E
precisam mesmo, dependendo do que fazem, ser punidos com rigor, mas,
dificilmente nos damos conta de que, por trás do bandido, muitas foram as
circunstâncias desfavoráveis que o levaram a ser o que é. Ninguém nasce bandido
ou deseja ser um excluído da sociedade.
É bem verdade também que poderia haver no
alvoroço, muitas pessoas famintas, que vislumbraram ali, uma oportunidade rara
de melhor saciar a fome que, não raras vezes, as dominam.
O fato caracteriza-se como uma cena típica
de um país subdesenvolvido, que urge medidas mais efetivas no segmento social,
primordialmente, investimentos na educação e em geração de empregos, para que
tal cena não volte a ocorrer, a qual macula a imagem do país e denota incapacidade
política.
Convenhamos, sobretudo, que, os piores
ladrões não são esses miseráveis que roubam por necessidade ou por nada ter,
mas sim, aqueles que, já sendo possuidores de bens materiais, arriscam até
mesmo a própria vida e maculam o nome da família no afã de que o seu patrimônio
cresça sempre mais.
Autoria: Antenor Rosalino
Imagem da internet
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