Com o pensamento envolto pelas névoas do
passado distante, relembrei-me como por encanto, de circunstâncias vivenciadas
no apogeu dos sonhos da minha adolescência.
Naquela época, as ilusões e o romantismo
afloravam o mais íntimo do meu ser, assim como ocorre naturalmente com os
jovens nas primícias do amor.
Os primeiros madrigais e nuanças das
aventuras juvenis daquele tempo traziam o florir da inocência; diferenciava
substancialmente das malícias muitas vezes deploráveis dos dias atuais.
Nas minhas andanças costumeiras pela
cidade, na época de então, em dia comum, mas livre das atribulações de praxe,
que caracterizam quase toda a minha gente, o meu povo, encontrei Natália!
O entardecer para mim se transformou; tudo
ganhou mais sentido, mais colorido, mais razão para que tivesse motivo de
contemplar ativamente tudo ao meu redor, e pensar...
Foi repentino e encantador o meu encontro
com Natália. A luminosidade de seus lindos olhos parecia adivinhar o meu
pensamento e a minha admiração por sua imagem singela e calma que simbolizava,
sobretudo, toda a beleza daquela tarde inesquecível, que fez meu coração pulsar
com mais ímpeto, fremir enfim de contentamento por sua meiguice a me ensinar
como dar valor ao verdadeiro sentido de um passeio, como laquear-me à natureza
e viver e até sonhar!
Natália parecia mesmo uma crisálida vinda do
céu com a missão de fazer-me admirar sobejamente, com outro ângulo de visão,
aquela tarde linda de sol e de céu claro, alabastrino...
Quase não falamos de nós; parecia que
estávamos presos àquele mundo diferente em que só víamos esplendor e
maravilhas!
As nossas conversas fluíam com pausas
alongadas num magneto de ternura e, vez por outra, evocávamos a necessidade de
tratarmos do nosso corpo de tal forma que pudéssemos ser dignos da pureza de
nossas almas. Afinal, de que vale o progresso material se perdemos a alma?
E foi assim, com essa pureza de sentimentos,
mas com total encantamento que, repentinamente, Natália surpreendeu-me com a
timidez de um beijo instantâneo, mas um tanto sedutor. E após um rápido e
melancólico adeus, desapareceu entre penumbras tristes, deixando-me desolado
como se eu estivesse solitário num continente perdido.
Este episódio romanesco deixou-me perplexo
por alguns momentos, como se na verdade, eu estivesse em estado hipnótico, e a
seguir, as lembranças permearam de forma mais real as minhas vísceras e, aos
poucos, apenas um sentimento nostálgico de inefável candura aventou-se na tarde
vazia.
Aquele adeus fixou-se em minha mente como um
eco emocional. Seria Natália uma visão?
Tenho apenas a certeza de que não se tratava
de uma imagem vã de um sonho. E ficou gravada em minha memória, toda a sua
meiguice e candura, e seu lindo nome: Natália!
Autoria: Antenor Rosalino
Imagem da internet
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