quarta-feira, 1 de julho de 2020

FLORAIS DE JANELAS

                                   

                     


   Cristalizadas gotas transparecem
   Em camarinhas como nuvens em brumas
   No transcorrer do tempo que voa 
   Tilintando presságios aos que amam

   Exuberantes florais de janelas
   Abrem trancas para o esperado amor
  Que se faz num divinal impulso ao léu
  Sob luz de estrelas em filetes no céu.

  No veraneio, um sopro divinal sobrevém.
  Névoas fecundam almas num encanto
  E mãos de crisálida exalam flores do além.

  Nostálgico pensar emerge o silenciar das almas
  Perscrutando o zelo da brisa disseminando mel
  Aventando suspiros e versos tristes ao léu.

                                                                
                                       Antenor Rosalino
                                                             

quinta-feira, 18 de junho de 2020

ANOITECER


                           
       
                   

A íris de sublime encanto prenunciando a noite bela
Traz um misto de serenidade e alegria
No perfeccionismo da mais alta poesia da natureza,
E as trevas se desfazem enquanto o sol se ajoelha no infinito!

Tudo então ganha sentido
Na calmaria silenciosa e terna desse apogeu de paz,
E meus olhos se inebriam
Com o lume da divindade... Razão de o meu pensar.

Em tons de suave melancolia e glória
A lembrança crepuscular permanece tácita,
Como as lendas da infância perpetuando na memória.

É como se chuva de estrelas caísse do céu,
Distraindo a parte triste do mundo
E as auguras nefastas de abandonados mausoléus.


                                           Antenor Rosalino



sábado, 6 de junho de 2020

A PALAVRA PROFERIDA



                             


Linguajar que nos conduz a quase tudo,
Comunica e nos leva à paz querida.
Denota, enfim, o que somos
A palavra proferida.

Ensina-nos o bom caminho
Em conselhos e guarida,
Mas também sempre ofende
A palavra proferida.

Vez por outra nos abala
Comunicando aguerrida:
Um adeus! Triste amargor
Da palavra proferida.

Deixa-nos em recordações contar
Tantas emoções vividas...
Deixa eco a ressoar
Belas palavras proferidas.

Palavras que guiam e ensinam...
Palavras sempre benditas..
São essas imagens divinas
A palavra proferida.

Palavras que agonizam,
Maltratam, ferem inseridas,
Quando o uso é indevido
Da palavra proferida.

Não fosse esse comunicar
Como seria essa lida?
Talvez forma tão vulgar
Sem palavra proferida.


Antenor Rosalino


quarta-feira, 20 de maio de 2020

CLAMOR



    
             


    Pela fresta da janela entreaberta
    E com o olhar a marejar
    Vislumbro o morro moreno,
    Altaneiro, velando o mar.

    A seus pés pedindo clemência
    Modesta casinha ao léu,
    Não podendo ser o mar
    Almeja atingir o céu.

    A colina verdejante
    Observa a chuva fina
    Prateando a casinha humilde
    Prestes a desmoronar

    E implora à crescente chuva
    Ruflando seus arvoredos:
    “Oh, chuva, não sejas rude,
    Não a leve consigo, não”.

    Também as rochas serenas,
    Com lágrimas em seus andares,
    Fazem coro com a colina
    Para as chuvas deserdarem.

    Como a atender os apelos,
    Mansamente, permeando o ar,
    Cessam as águas pluviais

    E orvalhada da aflição,
    Diz a colina em alívio
    Num suspiro de langor:

    “Obrigada, chuva amiga.
    A casinha ainda sonha.
    “Tu não a levaste, não”.


             Antenor Rosalino

domingo, 10 de maio de 2020

MÃE E FILHO




                           




Dia das Mães.
  O dia amanheceu radiante!
  No pequeno vilarejo à beira do cais os primeiros raios
de sol banhavam uma pequena casa, onde moravam
mãe e filho, este ainda criança.
  Logo ao acordar, o menino corre ao encontro da mãe
para saudá-la e diz a ela, esboçando um sorriso triste no olhar:
- Mãezinha, não tenho nenhum presente para te ofertar. Mas,
te dou meu coração agora.
  A mãe, então, tomada de incontida emoção, abraça o filho,
fecha calidamente as pálpebras, soluça e chora.



                                  Antenor Rosalino
 

sexta-feira, 1 de maio de 2020

AMOR




         

        Um sentir diferente...
        Nasce da luz de um olhar,
        De um gesto de carinho
        Ou de uma expressão qualquer
        E, tão delicadamente,
        Como um adorado sonho
        Invade o coração da gente.

        Não há como impedir seu lastro.
        Feito de avassalador encanto!
        Chamam-no cupido.
        Sua flecha é certeira.
        Chega sorrateiramente...
        Não suporta preconceitos.
        E não se importa com o preço.

        É paciente como o olhar materno
        A acalentar o frágil filho no seu colo de lírios.
        Não se prende às algemas do ciúme.
        Não é o primeiro nem o último,
        E quando se faz saudade,
        Deixa sempre laivos de melancolia
        No alvor de cada dia.


                                   Antenor Rosalino


quinta-feira, 16 de abril de 2020

O CREPÚSCULO E O LUAR

    
       


    A tarde grafita a luz crepuscular
    Sob transparentes penumbras
    De rendas e cetins
    Em perfeita glória escarlate.

    Afugento-me da ventania
    E espero o plenilúnio
    De noites estreladas
    Que revestem sonhos na madrugada.

     De repente uma penumbra triste
     Chega navegando mansamente
     Com esboços de rostos queridos
     Na minha solidão doída.

      No cinza da grande cidade
      A  noite reluzente abraça a Terra
      Sigo então minha sina
      Eu e o luar somente.
  


                            Antenor Rosalino