Notadamente, de modo geral, em qualquer segmento social, tudo aquilo que é benéfico para alguém, contrariamente, e na mesma dimensão, é prejudicial a outro alguém.
Esse fenômeno é tão comum e antigo quanto a própria história da humanidade. Como exemplo, cito o ocorrido em Atenas, conforme ensaio filosófico de Michel de Montaigne, que viveu durante os anos de 1.533 a 1.592:"Dêmade, de Atenas, condenou um homem de sua cidade que comerciava com coisas necessárias aos enterros, acusando-o de tirar disso lucro excessivo, somente auferível da morte de muitas pessoas. Tal julgamento não me parece muito equitativo, pois não há benefício próprio que não resulte de algum prejuízo alheio e, de acordo com aquele ponto de vista, qualquer ganho fora condenável.
O mercador só faz bons negócios porque a mocidade ama o prazer; o lavrador lucra quando o trigo é caro; o arquiteto quando a casa cai em ruínas; os oficiais de justiça com os processos e disputas dos homens; os próprios ministros da religião tiram honra e proveito de nossa morte e das fraquezas de que nos devemos redimir; nenhum médico, como diz o cômico grego da antiguidade, se alegra em ver seus próprios amigos com saúde; nem o soldado seu país em paz com os povos vizinhos. Assim tudo. E o que é pior, quem se analise a si mesmo, verá no fundo do coração que a maioria de seus desejos só nasce e se alimenta em detrimento de outrem".
Em se meditando a propósito, percebe-se que a natureza não foge, nisso, a seu princípio essencial, pois inclusive, no mundo animal isso ocorre de forma até pior, tendo em vista que, muitos são os bichos que só sobrevivem alimentando-se de outros bichos.
Enquanto se trata da natureza em sua essência, é compreensível, assim como será impossível para o homem evitar seu progresso pessoal sem obstruir os mesmos propósitos de seu semelhante. O que é condenável, ao extremo, isso sim, é desejar algo a todo custo e, para conseguir, não se importar em prejudicar o próximo levando-o, às vezes, ao holocausto da própria vida.
Essa atitude tem como consequência a própria infelicidade futura de quem pratica, além de aviltar contra o desenvolvimento salutar e solidário da cidade e do país.
É imperativo, portanto, vivermos com natural simplicidade para que nossas vidas possam se constituir em atos de amor perfeito às causas benevolentes para as quais fomos criados e que a procissão de nossas ideias sejam sensatas e coerentes com o desfilar de nossas ações no implacável fluir do tempo.
Antenor Rosalino