quinta-feira, 14 de março de 2024

DEMAGOGIA



Vê?

É vil.

Camufla piedade

Aos mais necessitados.

 

Chovem promessas...

Estratagemas loquazes

Enígmas de toda sorte,

Arautos de sua luz.

 

Girândolas, afinal, enunciam:

Fora eleito!

Cobranças logo virão,

Mas serão nuvens passageiras...

 

Esquece as distantes plagas,

Onde tanto estendera as mãos.

Só resta à inocente plebe:

Dar adeus às ilusões.

 

          Antenor Rosalino


quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

LÁGRIMAS

 

   

Tanto pranto a formar pequenas pétalas,

A correr em faces maculadas, dóceis, angelicais...

Como uma lança ferindo corações

Que padecem e suplicam em seus ais.

 

Desatinos, incompreensões, amarguras...

Vidas vazias, mas cheias de ternura

Tantos motivos levando ao desconsolo

Mas tantas razões para a esperança vindoura.

 

Lágrimas ardentes que fluem e deslizam.

Sufocam e caem deixando rastros hostis,

Como a brincar com tão puros sentimentos,

De sensibilidades puras e infantis.

 

Oh! Murmúrios cálidos que sufocam...

Quietude ímpar de aflição!

Gotas que externam a explosão interna

A lembrar passiva: os deslizes, a dor, a ilusão...

 

Entre suspiros sentidos

Vagueiam confusos pensamentos a torturar:

Arrependimentos, desejos, sonhos desfeitos...

Fazem-se presentes em cada terno olhar.

 

Olhares a reluzirem como as próprias lágrimas,

A suplicar o que só a esperança traz.

O amanhã será novo dia:

Que todo pranto se reverta em paz.

            

                          Antenor Rosalino

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

O MORIBUNDO


A manhã está triste.

O sol apareceu brando e tímido.

O enfermo agonizante

luta contra a morte

no leito hospitalar!

 

Com o corpo extático

e o olhar distante

- como a buscar guarida

no horizonte -, pressente que

a eternidade se avizinha...

 

O coração inconsciente

ainda pulsa, e, por um instante,

num denodado esforço, tendo

os lábios semiabertos, exclama:

“Só em lembrar dos bons momentos

vividos já valeu a pena ter nascido!”

 

E expira, por fim,

num funesto murmúrio,

o fatídico adeus final.

 

                 Antenor Rosalino

sábado, 3 de fevereiro de 2024

RIBEIRÃO BAGUAÇU




    Em pequena mina de rocha

    No noroeste paulista

    Em divisa de cidades

    Nasce o ribeirão Baguaçu.

 

    Abrindo suas vertentes

    O manancial desce mansamente,

    Enfeitando as ribanceiras

    Alegrando a solidão!

 

    Suas águas banham o solo

    Da bela Araçatuba

    E segue sua jornada

    Entre atalhos e espinhos.

 

    Não se opõe às intempéries

    Nem tampouco às angusturas,

    Segue altivo o seu percurso

    Num exemplo de candura.

 

    O sol abraça o seu seio

    Que reluz fosforescente,

    Espelhando as matizes

    Do seu curso permanente.

 

    No final dessa jornada

    O rio Tietê o acolhe

    Retirando-lhe os espinhos

    E eternizando em saudades

    Seu misterioso destino.

 

 

                  Antenor  Rosalino

 

 

sábado, 20 de janeiro de 2024

DIAGNÓSTICO

         


Nos exames rotineiros...

Check-up cardiovascular,

Surpreendente resultado:

Angustiante insuficiência cardíaca

Viera ameaçar-me!

 

Esteira, eletro, ecocardiograma...

Equânimes resultados

Predizem o meu pensar:

Há tempos não sou jovial,

Necessito resguardar-me.

 

O ar ainda se entranha

Com fragrância no meu ser,

Sem presságios a agitar

Os anos que viverei.

 

Palpitações não me perseguem,

Porém, a veia aorta

Dilatou-se em demasia,

Expondo seu pranto oculto

Em doses de elegia.

 

Sem a carência cirúrgica

Acalmo o meu coração

Com indulgente esperança

Nas bonanças do amanhã.

 

             Antenor Rosalino

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

UM DIA DE SOL

       




O festivo arrulhar dos passarinhos

Na alegria do amanhecer

Anuncia a emoldurada magia

Dos primeiros raios de sol,

Aspergindo fantasias

No colorir dos roseirais.

 

As opalas ganham cores,

As árvores lançam flores,

Há nas pétalas mais fulgores

E nos olhares: amores!

 

As sibilas profetizam

Aventando em tom festivo:

A ausência dos suspiros

Pelas lágrimas caídas

 

Nos dias em que o sol

Taciturno se ajoelha

No espaço sideral,    

 

E em prece se oculta

Por trás do manto sagrado

Da amplidão celestial.

 

        Antenor Rosalino

  

domingo, 10 de dezembro de 2023

DIAL

 


       


No encantamento mágico do amanhecer,

Contemplo a nostálgica pousada

De inocente cisne à beira de profundo lago.

 

Os passarinhos gorjeiam em revoadas

E, mansamente, raios dourados e multicores

Anunciam a alegre chegada do sol,

Derramando suas bênçãos com florescência vivaz.

 

Na brevidade do dia fugaz,

Vem a poesia do entardecer!

Por vezes, vagarosamente,

O pranto das nuvens cai...

 

E logo chega o anoitecer,

Trazendo a suave brisa

Trepidando os rios em seu curso,

Procurando o mar.

 

Final do dia!

As montanhas silenciosas

Vestem o manto crepuscular.

Brilham sorrisos...,  sob a luz do luar.

 

                 

                   Antenor Rosalino