quarta-feira, 20 de maio de 2020

CLAMOR



    
             


    Pela fresta da janela entreaberta
    E com o olhar a marejar
    Vislumbro o morro moreno,
    Altaneiro, velando o mar.

    A seus pés pedindo clemência
    Modesta casinha ao léu,
    Não podendo ser o mar
    Almeja atingir o céu.

    A colina verdejante
    Observa a chuva fina
    Prateando a casinha humilde
    Prestes a desmoronar

    E implora à crescente chuva
    Ruflando seus arvoredos:
    “Oh, chuva, não sejas rude,
    Não a leve consigo, não”.

    Também as rochas serenas,
    Com lágrimas em seus andares,
    Fazem coro com a colina
    Para as chuvas deserdarem.

    Como a atender os apelos,
    Mansamente, permeando o ar,
    Cessam as águas pluviais

    E orvalhada da aflição,
    Diz a colina em alívio
    Num suspiro de langor:

    “Obrigada, chuva amiga.
    A casinha ainda sonha.
    “Tu não a levaste, não”.


             Antenor Rosalino

8 comentários:

  1. Um poema soberbo, como são todos os que escreve! :)
    -
    Intempéries no sentimento imaturo

    Beijo, e um excelente dia :)

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    1. Sempre grato, caríssima Cidália.
      Afetuoso abraço e ótima semana.

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  2. Poema muito sedutor de ler. Gostei muito.
    .
    Cumprimentos
    Proteja-se

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  3. Bom dia meu querido amigo Antenor
    Tão bonito de se ler, quanto a apreciação da chuva caindo. Um poema transbordante de magia poética, como sempre são seus versos.
    Tenha dias amenos de quarentena amigo!

    Abração de paz.

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    1. Folgo em saber da sua apreciação e muito lhe agradeço, amiga Diná, inclusive pelo incentivo.
      Quanto à pandemia, os votos são recíprocos.
      Cordial e fraterno abraço.

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  4. Um clamor poético maravilhoso! Abraço fraterno

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    1. Muito lhe agradeço pelo gentil comentário, Estanislau.
      Fraternal abraço.

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