sexta-feira, 14 de novembro de 2025

PRIMEIROS PASSOS

 

                   


                      A mãezinha paciente,

                      Ilumina a rósea face

                      Na alegria de um sorriso;

                      Abre os seus braços de égide,

                      E ensina os primeiros passos

                      Ao seu amado filho,

 

                      A criancinha bambeia

                      E logo vem a primeira queda!

                      Numa segunda tentativa:

                      Outra queda!

                      Na terceira: uma queda a mais,

                      Porém, já com certo equilíbrio...

 

                      Já na quarta experiência:

                      As perninhas se equilibram

                      E, mesmo bem desengonçado,

                      Ostentando ardente brilho

                      No rostinho angelical,

 

                      Vem com passos cambaleantes

                      À mamãezinha abraçar

                      Que o recebe comovida,

                      Tendo no seu rosto vívido

                      Uma lágrima a rolar.

 

 

                                             Antenor Rosalino

 

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

PREVIDÊNCIA NEGADA


                                 

 Num dia qualquer, há algum tempo atrás, caminhando lentamente, trazendo na lívida face profundas rugas retratando a sua laboriosa vivência de adversidades, um pobre ancião, debilitado, sentindo as pernas fraquejarem, buscara confiante como último lenitivo, o seu direito assistencial na Previdência Social.

  Foram muitos os anos de contribuição aos cofres públicos, em simetria com o trabalho árduo, sob o ardente sol a abrasar o seu suor.

  Para o seu desencanto esbarrou-se, porém, nas infindáveis e ofegantes filas, enquanto os seus olhos cansados e tristes denotavam servidores desfilando prepotência e morosidade pelas alas da entidade destinada ao pronto atendimento dos munícipes, em suas necessidades de atendimento médico-hospitalar. Tal insensibilidade e desdém funcional negaram a atenção devida; não cumpriram a sua parte de amparo a quem contribuiu com assiduidade durante longos anos, para ser acolhido com dignidade na inevitável debilidade física da senilidade.

  Passaram-se as horas e sentindo o seu estado físico agravar-se de forma assustadora e preocupante, num derradeiro apelo, o contribuinte já quase desfalecido, apelara indulgente, por um atendimento emergencial, tendo ouvido em definitivo, a negativa crucial de amparo ao seu estado de aflição, recebendo como alegação, a necessidade de que fosse obedecida a ordem de chegada; numa demonstração inequívoca do não cumprimento ao atendimento prioritário aos casos mais graves, principalmente em se tratando de idosos.

  Com os olhos marejados e o cansaço a dominar-lhe, o ancião volta ao seu lugar na fila, agora mais ofegante.

  De repente... a tragédia! O velho trabalhador volve os olhos para o céu e cai inerte ao chão, sob os olhares estarrecidos de outros tantos irmãos. O seu rosto ainda verte um fio de sangue advindo de sua queda, como a marcar a sua angústia no gélido piso hospitalar, onde veio a falecer sem o atendimento devido.

  Obviamente, não podemos generalizar e atribuir descaso a todos os administradores e atendentes públicos, os quais, em sua maioria, dignificam os cargos que ocupam e cumprem com denodo as suas atribuições devidas, mas é de fundamental importância que esteja sempre vívida na lembrança de todos os servidores públicos, que são esses trabalhadores, o sustentáculo de todas as benesses de suas vidas.

  Fora negada uma vez mais, a um velho e honrado trabalhador, a devida Previdência Social. Resta-lhe, porém, o inefável e indestrutível abrigo da Providência Celestial.

 

                                                       Antenor Rosalino


sábado, 18 de outubro de 2025

ALVORADA


            
        ALVORADA

 

O amor renasce a cada dia

No eflúvio encantador

E a natureza tece sonhos

No risonho amanhecer.

 

A fragrância de cada flor

Acaricia a terra, turbas e falésias

Em mágicos momentos

De fulgurante esplendor.

 

 Meu coração radiante

 Rejuvenesce o pulsar

 Em perfeita sincronia

 Com os pássaros a enevoar.

 

  Nesses momentos de luz,

  Vejo a vida se espelhar

  Em cada pétala em flor,

  No fascínio de cada olhar.

 

    A última estrela se esconde

    Por traz dos raios de sol

    Que resplandece sua magia

    Quando  pousa sobre o mar.

 

 

                     Antenor Rosalino

     

     

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

LITANIA

 

           

                

 

                    Nostálgico pensar na solidão

                    aflora o meu âmago mais profundo

                    em vãs interrogações sobre

                    a transitoriedade presente

                    que faz os doces momentos,

                    tornar-se doídos lamentos.

 

                    Derrama-se na minha alma

                    lágrimas de negra melancolia,

                    enquanto uma cintura lânguida

                    de brancas nuvens

                    passa, dando adeus

                    ao crepúsculo vespertino.

 

                    Como o pêndulo indiferente

                    de um relógio que segue,

                    oculto-me por trás de palavras

                    perdidas e esquecidas,

                    em busca de coisas

                    que nunca são encontradas.

 

                    Em noites claras, mal dormidas,

                    as florestas ecoam meus suspiros

                    entre sonhos dissolvidos

                    no meu hábito de exaltada ternura,

                    à procura do que ontem era tudo

                    e hoje, o prado só medra abrolhos

                    e nada mais se fecunda.

 

                                    Antenor Rosalino

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

NÃO VIVEREI EM VÃO

 

                                              

 

                  Não viverei em vão seu eu puder,

                  com pureza de sentimentos,

                  salvar ao menos um coração

                  que se vê arrastado

                  pela incompreensão do desamor,

                  na corrente sombria

                  do desespero e da dor inútil.

 

                  Se eu puder aliviar uma dor

                  ou ajudar um pássaro ferido

                  a ludibriar nevascas e galgar incólume

                  o aconchego do seu ninho

                  poderei dizer em regozijo

                  - feito um poema deixado

                  em construto imortal -,

                  na leveza ascendente

                  de sentimentos crísticos,

                  que eu não vivi em vão.

 


                                   Antenor Rosalino

                 

 

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

NA IMENSIDÃO DOS SENTIDOS

 

                 

 

                   Com o olhar envolto

                    pela bruma invisível do amor,

                    repenso a vida e busco

                    na imensidão dos sentidos,

                    exteriorizar a poesia mais cândida

                    do meu pensar.

 

                    Sob a luz das estrelas

                    - num áureo céu sublimar -,

                    trombetas e clarins dos anjos celestiais

                    infundem sons suaves e maviosos...

 

                    Noites e dias voejo

                    livre na amplidão estelar.

                    Alquimia da alma!

                    Silenciosos suspiros

                    de saudade a transbordar.

 

                    A brisa vaga em meus sonhos,

                    e a minha alma serenada

                    - distante das formas da ilusão -,

                    sorrateira se ancora

                    no porto do meu coração.

 

                                    Antenor Rosalino

terça-feira, 19 de agosto de 2025

CONTRASSENSO

 

                                                  


 

  Investido de passageiro e ínfimo poder terreno, o ser humano faz descobertas maviosas e as utiliza tanto para o bem como para o próprio mal. São vastos os exemplos sobre esse tema. Por exemplo, cria a bomba atômica, mas ceifa a vida dos semelhantes em guerras absurdas e destrói na insanidade, edificações centenárias, transformando em destroços, frutos de anos de trabalho árduo.

   Busca soluções para a substituição do “ouro negro” e encontra na natureza a sonhada alternativa: o etanol, mas destrói desenfreadamente,  sem planejamento, as lavouras da Mãe-Terra, calcinando-a,  e com isso, aumenta a fome no mundo.

   Descobre cientificamente como proceder ao seguro tratamento da água que consome, mas polui com as próprias mãos, caudalosos rios serenos.

   Inventa eficazes remédios, até mesmo para gáudio do seu prazer sexual, porém, no afã da satisfação exacerbada, tornam-se sempre letais as doses exageradas.

   Uma das últimas e mais fantásticas invenções feitas pelo homem, a Internet, inegavelmente, é o veículo de comunicação que mais aproxima as pessoas de todo o mundo. O internauta é um privilegiado viajor das mais lindas paisagens e monumentos históricos mundiais, tem, sobretudo, oportunidades incríveis de aprimorar conhecimentos, interagir com pessoas afins, pesquisar, aprender, etc.

Em contrapartida, na mesma proporção em que instrui e permite que o indivíduo – principalmente quando tem talento e interesse – desenvolva o seu potencial, pode ser um veículo destrutivo dos mais maléficos, quando usado indevidamente por mentes poluídas de sentimentos mesquinhos, banais e até assassinas.

  Exemplos não faltam e causam extrema tristeza, de pessoas que fogem às obrigações que a natureza lhes delega, e se arruínam na corrente sombria da depravação e dos malefícios. E o que é pior, temos constatado casos absurdos de indivíduos aparentemente confiáveis, mas que, no fundo, são monstros que utilizam a Internet para a sedução de crianças e jovens desorientados.

   Como último exemplo de incoerência humana, reporto-me à extraordinária competência dos astronautas terem chegado à Lua, para cuja odisseia, foram gastos valores inimagináveis e, no entanto, não se busca solução para o fim da miséria e da fome no mundo.

   Finalizo estas minhas ponderações, reportando-me ao sábio provérbio de Willian Shakeaspeare: “Homem, orgulhoso homem, que imbuído de tão pequenina e passageira autoridade, empreende tão fantásticas missões perante os céus, que fazem os anjos chorarem”.

 

                                                       Antenor Rosalino

  

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

HARMONIA

 


                   

         

            Surge o sol banhando as paisagens

            E meu coração se enternece

            Sentindo a fragrância

            Do amanhecer que me aquece.

 

            Os raios solares refletem

            Suas lanças coloridas

            Nas águas límpidas do rio que passa

            Em suave plangor!

 

            Embriagadora emoção me invade,

            Em harmonia com meu coração

            Pulsante em gama de amores,

            Como a ouvir concertos de Bethoven.

 

            Em simetria, sigo cortando os ares,

            E ao senti-lo, dou graças

            À graça da vida em flor.

 

 

                                 Antenor  Rosalino

 

 

 

terça-feira, 22 de julho de 2025

POETAS VIRTUAIS

 

                             

 

                       Entre sonhos avolumados

                       na mente liberta,

                       aventam-se pensamentos

                       purificados e depurados

                       na magia das palavras soltas...

                      Como um poema abandonado,

                       deixado no ar,

                       os versos anseiam viver:

                       latejam na alma poética,

                       enquanto suas células líricas,

                       feitas de amor perfeito,

                       imergem-se no mar da esperança,

                       buscando  encontrar num dia feliz,

                       de repente, outras almas divagantes

                       no mundo virtual incerto

                       - labirinto de saudades -,

                       e unirem os seus anseios

                       em distantes rosários da vida:

                       onde o lirismo alicia

                       horizontes que fecundam

                       atemporais poesias.

 


                                            Antenor Rosalino

terça-feira, 8 de julho de 2025

SOB A UZ DAS ESTRELAS


                                                                  


Tendo lido a belíssima crônica “A chaga social” de Taís Luso de Carvalho, e, como o contexto veio de encontro, em parte, com a primeira crônica que escrevi, publicada em 1969, compartilho com os amigos:

 Certo dia, num desses momentos em que as lembranças do passado longínquo afloram-me à mente, recordei-me de uma circunstância um tanto reflexiva, ocorrida há várias décadas, na minha juventude... Era domingo. A chuva caía mansamente durante a noite. Eu, sozinho, caminhava apressadamente, parando aqui e ali, evitando a chuva que, a cada passo, aumentava mais e mais. Ao virar numa esquina, deparei-me com alguns amigos, jovens como eu, com os mesmos sonhos, os mesmos anseios e as mesmas esperanças que as minhas. Conversávamos animadamente quando, de repente, surgiu-nos à frente um homem barbudo, na verdade, era um mendigo, o qual, dirigindo-se a nós timidamente, pediu-nos um auxílio, alegando ser desprovido pela sorte e estar com muita fome. Compadecidos com a cena, ofertamos-lhe algum dinheiro em esperança de ajudar o infeliz. Após o seu rápido murmúrio de agradecimento, o mendigo, para nossa surpresa e estarrecimento, entrou no primeiro bar à vista, e percebemos que ele não foi sanar a fome que, pelo visto, o devorava, mas, sim, tomar demoradamente algumas boas doses de cachaça. Entreolhamo-nos admirados com sentimentos indecifráveis de repúdio e, ao mesmo tempo, penalizados pelo ato tão reprovável. Finalmente, contemplamos com tristeza aquele pobre homem, desfavorecido pelas circunstâncias, sem anseios, sem ilusões e sem mais esperanças. No céu, estrelas ainda flamejavam na noite de chuva fina, enquanto os nossos pensamentos de jovens uniam-se fazendo a mesma pergunta: por que ele vive assim? Mas, enquanto assim pensávamos, esquecíamos de que ele também foi jovem como nós, e qualquer pessoa está sujeita a tais vicissitudes da vida. São, de fato, infindáveis os casos tristonhos de tantos indivíduos que se desvirtuam, indiferentes ao fato de que os obstáculos existem para ser transportados e é preciso sensatez e serenidade para o enfrentamento das inevitáveis adversidades. Alguns, lamentavelmente, já vêm de submundos de marginalidade; outros, porém, deixam-nos perplexos por assumirem atitudes não condizentes em relação ao seu histórico familiar. E mesmo aqueles que se dizem bem nascidos e afortunados podem vir a ser levados pelas águas do mar desses infortúnios, onde navegam histórias das mais surpreendentes de desilusões motivadas pelo vício das drogas e do álcool. E essas pessoas, quando desprovidas de forças ou esclarecimento necessário para se reerguerem no afã de uma nova vida, entregam-se também, definitivamente, ao vício da conformação para viver apenas a angustiosa espera do suspiro final. 

                                                                Antenor Rosalino