terça-feira, 19 de agosto de 2025

CONTRASSENSO

 

                                                  


 

  Investido de passageiro e ínfimo poder terreno, o ser humano faz descobertas maviosas e as utiliza tanto para o bem como para o próprio mal. São vastos os exemplos sobre esse tema. Por exemplo, cria a bomba atômica, mas ceifa a vida dos semelhantes em guerras absurdas e destrói na insanidade, edificações centenárias, transformando em destroços, frutos de anos de trabalho árduo.

   Busca soluções para a substituição do “ouro negro” e encontra na natureza a sonhada alternativa: o etanol, mas destrói desenfreadamente,  sem planejamento, as lavouras da Mãe-Terra, calcinando-a,  e com isso, aumenta a fome no mundo.

   Descobre cientificamente como proceder ao seguro tratamento da água que consome, mas polui com as próprias mãos, caudalosos rios serenos.

   Inventa eficazes remédios, até mesmo para gáudio do seu prazer sexual, porém, no afã da satisfação exacerbada, tornam-se sempre letais as doses exageradas.

   Uma das últimas e mais fantásticas invenções feitas pelo homem, a Internet, inegavelmente, é o veículo de comunicação que mais aproxima as pessoas de todo o mundo. O internauta é um privilegiado viajor das mais lindas paisagens e monumentos históricos mundiais, tem, sobretudo, oportunidades incríveis de aprimorar conhecimentos, interagir com pessoas afins, pesquisar, aprender, etc.

Em contrapartida, na mesma proporção em que instrui e permite que o indivíduo – principalmente quando tem talento e interesse – desenvolva o seu potencial, pode ser um veículo destrutivo dos mais maléficos, quando usado indevidamente por mentes poluídas de sentimentos mesquinhos, banais e até assassinas.

  Exemplos não faltam e causam extrema tristeza, de pessoas que fogem às obrigações que a natureza lhes delega, e se arruínam na corrente sombria da depravação e dos malefícios. E o que é pior, temos constatado casos absurdos de indivíduos aparentemente confiáveis, mas que, no fundo, são monstros que utilizam a Internet para a sedução de crianças e jovens desorientados.

   Como último exemplo de incoerência humana, reporto-me à extraordinária competência dos astronautas terem chegado à Lua, para cuja odisseia, foram gastos valores inimagináveis e, no entanto, não se busca solução para o fim da miséria e da fome no mundo.

   Finalizo estas minhas ponderações, reportando-me ao sábio provérbio de Willian Shakeaspeare: “Homem, orgulhoso homem, que imbuído de tão pequenina e passageira autoridade, empreende tão fantásticas missões perante os céus, que fazem os anjos chorarem”.

 

                                                       Antenor Rosalino

  

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

HARMONIA

 


                   

         

            Surge o sol banhando as paisagens

            E meu coração se enternece

            Sentindo a fragrância

            Do amanhecer que me aquece.

 

            Os raios solares refletem

            Suas lanças coloridas

            Nas águas límpidas do rio que passa

            Em suave plangor!

 

            Embriagadora emoção me invade,

            Em harmonia com meu coração

            Pulsante em gama de amores,

            Como a ouvir concertos de Bethoven.

 

            Em simetria, sigo cortando os ares,

            E ao senti-lo, dou graças

            À graça da vida em flor.

 

 

                                 Antenor  Rosalino

 

 

 

terça-feira, 22 de julho de 2025

POETAS VIRTUAIS

 

                             

 

                       Entre sonhos avolumados

                       na mente liberta,

                       aventam-se pensamentos

                       purificados e depurados

                       na magia das palavras soltas...

                      Como um poema abandonado,

                       deixado no ar,

                       os versos anseiam viver:

                       latejam na alma poética,

                       enquanto suas células líricas,

                       feitas de amor perfeito,

                       imergem-se no mar da esperança,

                       buscando  encontrar num dia feliz,

                       de repente, outras almas divagantes

                       no mundo virtual incerto

                       - labirinto de saudades -,

                       e unirem os seus anseios

                       em distantes rosários da vida:

                       onde o lirismo alicia

                       horizontes que fecundam

                       atemporais poesias.

 


                                            Antenor Rosalino

terça-feira, 8 de julho de 2025

SOB A UZ DAS ESTRELAS


                                                                  


Tendo lido a belíssima crônica “A chaga social” de Taís Luso de Carvalho, e, como o contexto veio de encontro, em parte, com a primeira crônica que escrevi, publicada em 1969, compartilho com os amigos:

 Certo dia, num desses momentos em que as lembranças do passado longínquo afloram-me à mente, recordei-me de uma circunstância um tanto reflexiva, ocorrida há várias décadas, na minha juventude... Era domingo. A chuva caía mansamente durante a noite. Eu, sozinho, caminhava apressadamente, parando aqui e ali, evitando a chuva que, a cada passo, aumentava mais e mais. Ao virar numa esquina, deparei-me com alguns amigos, jovens como eu, com os mesmos sonhos, os mesmos anseios e as mesmas esperanças que as minhas. Conversávamos animadamente quando, de repente, surgiu-nos à frente um homem barbudo, na verdade, era um mendigo, o qual, dirigindo-se a nós timidamente, pediu-nos um auxílio, alegando ser desprovido pela sorte e estar com muita fome. Compadecidos com a cena, ofertamos-lhe algum dinheiro em esperança de ajudar o infeliz. Após o seu rápido murmúrio de agradecimento, o mendigo, para nossa surpresa e estarrecimento, entrou no primeiro bar à vista, e percebemos que ele não foi sanar a fome que, pelo visto, o devorava, mas, sim, tomar demoradamente algumas boas doses de cachaça. Entreolhamo-nos admirados com sentimentos indecifráveis de repúdio e, ao mesmo tempo, penalizados pelo ato tão reprovável. Finalmente, contemplamos com tristeza aquele pobre homem, desfavorecido pelas circunstâncias, sem anseios, sem ilusões e sem mais esperanças. No céu, estrelas ainda flamejavam na noite de chuva fina, enquanto os nossos pensamentos de jovens uniam-se fazendo a mesma pergunta: por que ele vive assim? Mas, enquanto assim pensávamos, esquecíamos de que ele também foi jovem como nós, e qualquer pessoa está sujeita a tais vicissitudes da vida. São, de fato, infindáveis os casos tristonhos de tantos indivíduos que se desvirtuam, indiferentes ao fato de que os obstáculos existem para ser transportados e é preciso sensatez e serenidade para o enfrentamento das inevitáveis adversidades. Alguns, lamentavelmente, já vêm de submundos de marginalidade; outros, porém, deixam-nos perplexos por assumirem atitudes não condizentes em relação ao seu histórico familiar. E mesmo aqueles que se dizem bem nascidos e afortunados podem vir a ser levados pelas águas do mar desses infortúnios, onde navegam histórias das mais surpreendentes de desilusões motivadas pelo vício das drogas e do álcool. E essas pessoas, quando desprovidas de forças ou esclarecimento necessário para se reerguerem no afã de uma nova vida, entregam-se também, definitivamente, ao vício da conformação para viver apenas a angustiosa espera do suspiro final. 

                                                                Antenor Rosalino

quarta-feira, 25 de junho de 2025

ABSTRATISMOS

 

                                                                   




  Numa dessas noites em que o prado e a brisa leve trás um enlevo que enternece a alma, decidi fazer um poema. A inspiração não me aflorava em palavras na ocasião, mas sim, no magnetismo do plenilúnio e do azul do céu estrelado.

     Com o pensamento envolto pela bruma invisível de um lirismo encantador, iniciei os meus escritos quando, repentinamente, lembrei-me de ter ouvido de alguém num certo dia, que a poesia é de difícil entendimento. Detendo-me nesta lembrança, a minha inspiração dissipou-se como o vento... Não fiquei triste, pois o meu estro poético embora não seja de um poeta maior, nunca me abandona. Sempre tenho momentos sublimados, nos quais, a minha imaginação voeja, flutua e recrio os meus modestos poemas. 

  Prevalecendo-me daquele momento, refleti sobre os mais diversos ângulos que uma mensagem poética pode transmitir e conclui: alguns poetas utilizam palavras abstratas e metáforas (ou palavras difíceis como muita gente diz), um pouco mais do que outros. Isso faz com que a maioria dos leitores que precisam de uma leitura vagarosa para entender o real conteúdo da poesia, seja induzida a consultar o dicionário para saber o significado de certas palavras; e isso, muitas vezes o irrita. 

   Devo confessar que sou afeito às metáforas, às palavras diferenciadas que a meu ver, trazem um glamour a mais à obra poética. Por outro lado, a consulta ao dicionário – quando preciso -, certamente propicia ao leitor interessado, a oportunidade de ampliar os seus conhecimentos e, aos poucos, ir adquirindo a compreensão necessária para deleitar-se na plenitude do fetiche invulgar que só a poesia pode proporcionar. 

   É evidente que essas palavras diferenciadas são aceitas mais comumente apenas em obras poéticas, cujos vocábulos devem ser evitados nos textos usuais do cotidiano. Resumindo, as palavras diferenciadas não tiram a simplicidade da poesia; fazem, isto sim, com que esta ganhe mais brilho e incita o leitor a elevar o seu pensar. Quanto ao entendimento, basta ler calmamente, procurando entender o contexto, obedecendo as pontuações e as pausas que se fizerem necessárias. Utilizando-se destes critérios, a poesia tornar-se-á um lenitivo incomensurável para a alma e o coração. 


                                                    Antenor Rosalino

sexta-feira, 13 de junho de 2025

CICATRIZES

 

              

 

                   As cicatrizes do amargor

                   Refletidas em teu sorriso

                   Trouxeram um misto de melancolia

                   E tristeza ao meu olhar.

 

                   Sinto que o tempo passado

                   De quimeras represadas,

                   Nunca fora superado...

 

                   Como uma noite sem prado,

                   Permeia entre nós um vácuo

                   E abissais cálidos de lágrimas.

 

                   Seguimos na angustura

                   - caminhando lado a lado -,

                   Carregando entre suspiros

                   As quimeras maculadas.

 

                   Trago, porém, a ternura

                   Nas marcas da longa espera,

                   Em esperança de um dia

                   Em lugar das cicatrizes

 

                    Ver brotar entre sorrisos

                    As raízes suprimidas

                    Do meu amor refletido

                    Nas minhas palavras perdidas.

 


                                      Antenor Rosalino

 

sexta-feira, 30 de maio de 2025

LUAR NA PRAIA

 

   

 

                    O fulgurante esplendor

                    Da clara noite lunar,

                    Prateia a lívida praia

                    Com ondas a cintilar.

 

                    As dunas desertas descansam

                    O seu cansaço dial,

                    Enquanto o vento permeia

                    O seu sono divinal.

 

                    As águas claras refletem

                    Os astros celestiais,

                    Formando cisalhas de prata,

                    Como opalas a brilhar.

 

                    Paira a magia no ar...

                    Induzindo imaginar

                    A pequenez dos terráqueos

                    Ante a imensidão do mar.

 

                                      

                                    Antenor Rosalino

 

 

 

sábado, 17 de maio de 2025

ABISMOS E ESPERANÇAS

 

                   

               

                   Quando da Terra partires,

                    As estrelas, os luares,

                    Nada irá me seduzir.

                    O meu olhar sempre em trevas

                    Não viverá os donaires

                    Da natureza festiva

                    Dos multicores jardins.

 

                    Serei um astro cadente

                    Em abissais desconexos.

                    Um meteoro em declive

                    Cortando os ares em baila,

                    Sôfrego na amplidão,

                    Entre suspiros sentidos,

                    Em dédalos de hiatos tristes.

 

                    Mas noutro plano da vida,

                    Ao reencontrar-te festiva

                    Com renovados valores,

                    Escreverei o teu nome

                    Em coroa de jasmins

                    E no barco da esperança

                    Em águas claras, serenas,

                    Seremos anjos de amores.

 

                                  Antenor Rosalino

 

 

sábado, 3 de maio de 2025

ESTRO POÉTICO

                                     

              

 

                    Não sou possuidor

                    da laudável inspiração

                    de um poeta maior,

                    o qual, vive a plenitude

                    de um outro mundo,

                    onde os sonhos transcorrem

                    o tempo todo,

                    à luz do seu infindável dédalo

                    de ricas fantasias

                    do seu engenho poético.

 

                     Sou um poeta menor,

                     e a gratidão domina o meu ser,

                     pois quando deixo

                     as palavras abstratas

                     que enfeitam a vida,

                     e o labirinto dos meus pensamentos

                     devolvem-me a realidade esquecida,

                     desfruto os momentos diversivos;

                     investigo as emoções

                     e entrego-me à dádiva

                     do plácido viver no plano terreno,

                     onde tão pouco tenho a dar

                     e tanto tenho a agradecer.

 

                                                                                                                     

                                     Antenor Rosalino

 


domingo, 20 de abril de 2025

A FÉ

 

             

 

            Ainda que tempestades de ingratidão desabem

            E torturas e desatinos avassalam.

            Ainda que haja injúrias e intempéries

            A fé, sobretudo, impera.

 

            Não fosse essa crença divina,

            Não fosse essa força clemente,

            E o nosso mundo seria

            Um mar de tristezas, somente.

 

            O padecer nos ensina

            O caminho do porvir.

            Entre as trevas vê-se a luz

            Que nos eleva e conduz.

 

            Os maus tempos antecedem

            Sempre, sempre a bonança,

            Mas sem fé tudo seria

            Só maus tempos, sem bonança.

 

            A natureza que encanta

            E o nosso corpo perfeito,

            São motivos incontestes

            À gratidão permanente.

 

           Com fé tudo se consegue,

           Até mesmo o impossível.

           É acreditando na vida

           Que a vida nos enobrece.

 

           O que seria de nós

           Sem um Deus no coração?

           Vida vazia...,  incerteza...

           Só tristeza e solidão.

 


                         Antenor Rosalino